""Eu segurei muitas coisas em minhas mãos e eu as perdi; mas tudo que eu coloquei nas mãos de Deus eu ainda possuo." Martin Luther King

Recordações da minha professora

Hoje não sei bem porquê, recordei a minha professora da escola primária.
A minha mãe era professora, tambem ia iniciar o ano lectivo, por esse motivo o meu pai acompanhou-me e ao meu irmão no primeiro dia de aulas.
As escolas, naquela época, abriam invariavelmente a 7 de Outubro. A menos que este dia fosse a um Domingo ou Feriado.
E lá estavam os bancos-carteiras, de dois lugares, com tampos de levantar e apetrechados com dois tinteiros, o estrado, a secretária da professora, o quadro preto, o giz e o seu inconfundivel cheirinho, que ainda hoje conservo na minha memória olfactiva, os mapas e o relógio na parede.
Tive a mesmo professora da 1ª à 4ª classe. Fazia uso constante do ponteiro e da régua larga, da qual eu era utilizadora habitual, devido ao meu "bom comportamento", e ao facto de não fazer os imensos trabalhos de casa que ela nos passava.
Quem não sabia as lições de cor ou dava mais de 3 ou 4 erros no ditado, era tambem forte candidato à regua. Para os menos aplicados, tambem existiam as famosas "orelhas de burro", humilhação suprema, pois a professora colocava-nos na janela, bem visiveis aos olhos dos transeuntes, que lógicamente nos apontavam e sorriam. Era tambem, e isto era o pior, o motivo de troça dos outros miudos, pois não iamos ao recreio, ficavamos de castigo com as orelhas enormes enfiadas na cabeça, enquanto os coleguinhas no pateo da escola se riam e nos chamavam burros. Felizmente escapei a isso!
Nas aulas recitava-se em coro as tabuadas, a conjugação dos tempos verbais, os rios e seus afluentes.
Às vezes tínhamos de decorar alguns poemas que, por mais belos que fossem, perdiam toda a virtude pela repetição mecânica que deles fazíamos.
Mas recordo com imenso carinho a minha professora, a D. Elisa, alta, magrinha, olhos negros, uns oculinhos na pontinha do nariz, que lhe davam um ar muito engraçado, um eterno carrapito, nunca lhe conheci outro penteado, e um sorriso enorme com que nos acolhia todas as manhãs e dava os "bons dias meninos".
E nós, os pequenotes, de pé, a sauda-la, em coro, "Bom dia senhora professora", que saudades.
Sabiamos que podiamos confiar nela, que era tambem a nossa melhor amiga, sempre pronta a ajudar em qualquer dificuldade, sentiamos o seu amor, a dedicação com que nos transmitia os seus ensinamentos.
Parece-me sentir ainda o seu cheirinho perfumado, quando se inclinava sobre a nós para esclarecer alguma duvida.
Aprendi muito com ela, incutiu-me valores que perduram, preparou-me para os anos seguintes que me esperavam, e como me foram úteis os seus ensinamentos.
Hoje fica esta pequena homenagem a uma amiga inesquecivel.
Onde quer que esteja Professora Elisa, rendo a Deus glórias pela sua existência, pelo seu modelo na minha vida!

16 comentários:

Bloguinho da Zizi disse...

Maysha
Agora me levaste ao passado também.
Me vi com minha primeira professora, uma senhora morena, alta, também magrinha, de cabelos curtos, Dona Ada.
Acredite, viva ainda. Às vezes passo pela porta de sua casa e lá está ela na sua sala ou na varanda. Sempre acenando para alguém que passa.
Que saudade!
Ela exercia com amor a profissão e isso refletia em nós.
É uma imagem pra sempre.
Gratidão
beijinhos

Andradarte disse...

Obrigado por descrever as minhas
memórias de instrução primária...
era tudo igual, no país inteiro...assim é a história de todos...
Beijo

Anónimo disse...

eheh levei tanta vez com a régua, lembras-te quando nos disseram para pormos um cabelo na mão, que a regua se partia?
Arranquei os cabelos, levei com a régua e como é obvio ficou intacta...saudades sim amiga. Um beijo à D. Elisa, nossa amada professora.
Mara

Moon disse...

Amiga que lindo regresso ao passado, era assim mesmo, tal e qual.
Obrigada por nos recordares
Beijos

franciete disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
franciete disse...

Olá minha querida, que boas recordações quem as tem é bem que as recorde, o que não é o meu caso, tive várias professoras e algumas bastante cruéis, ou talvez eu fosse sempre o patinho feio e pobre da turma.
Recordar para mim esses tempos são feridas que já todos estes anos passados ainda sangram, mas talvez o sitio onde eu fui criada e educada, também tivesse alguma coisa a ver com isso.
Eu era uma miúda muito pobre, e ali fazia-se descriminação da pobreza, como se ela já não chega-se para tortura, foi sempre muito educada e humilde pois os meus pais esses sim, me deram educação e sempre me fizeram compreender qual era o meu lugar na fila.
Quando era preciso um pomteiro era sempre eu a leva-lo, porque morava ao pé de um canavial, pois também escusado srá dizer que sempre era a primeira a estrea-lo, e com se só por si não chega-se, ai daquele que leva-se também com ele, pois cá fora era mais uma tareia que eu apanhava.
Um dia também conto a minha história de professoras, beijinhos de luz e paz em sua alma.
PS: me desculpe esta seca

23 de Março de 2010 13:33

franciete disse...

Pois é bem verdade minha querida, as marcas essas o tempo não apaga, mas contudo já lá vão 54 anos, nesses tempos tudo era bem diferente, e as crianças eram vitimas de tudo e de todos. A escola não presta, então vais trabalhar para juntos dos pais e dos irmãos mais velhos, e assim eu tinha 10 anos, quando comecei a trabalhar, e por graça também ganhava 10.00 escudos por dia. Enfim, eu digo que a minha vida dava um filme de terror.
Mas mais não digo são tempos passados beijinhos de luz e paz

franciete disse...

Amiga há um miminho no lamentos de alma personalizado para si é logo o primeiro a contar de cima.
bj.

Maga disse...

A minha era a D.Branca... querida professora, Branca de seu nome, branca em seu cabelo...
Eu adorava-a, nunca me bateu, eu era a sua melhor aluna, era aquela que ficava a tomar conta das outras quando, por algum motivo, ela saía da aula. Quando há amor e compreensão, até os ensinamentos são melhor assimilados...
Amiga, vim espreitar seus blogs, você é fantástica!
Gostei e vou voltar!

Um abraço

Sonhadora (Rosa Maria) disse...

Minha querida
Fizeste-me regressar ao passado, lindo texto.

beijinhos
Sonhadora

Psiquismo Desmistificado disse...

Belíssimo texto minha querida amiga.
São os ensinamentos que ficam para sempre em nossas vidas. Muito bonito o que escreveu.
Um grande abraço

Anónimo disse...

Prezada Maysha, é com alegria e boas recordações que leio tua história.
Embora, diferenças existam, mas algo de semelhante guardamos em nossas memórias.
Parece que estava eu a estudar na escola onde tu estudou!
parece que vejo minha professora tão querida (e por ela apaixonado, em teu escrito.
Pretendo postar algo de minhas recordações, do meu tempo de escola.
Se me permite, deixo contigo esse poema:

Professora

Professora! Quão nobre e difícil é a missão!
Triste ver tua bendita sina sendo desvirtuada.
Trago no peito solene respeito e uma paixão!
Amiga, heroína e mestra, deusa vilipendiada.

Teus livros, tua vida, e o boletim de chamada,
Expunha teu talento, o mais lindo da terra!
Tempos atrás, fostes glória, querida e amada.
Que com zelo sagrado, minha prece encerra...

Simboliza para mim, ainda uma luz preciosa.
Nessa escuridão absurda, de trevas medonhas,
Guiando resoluta os seres, que do lume carente.

Mas a covardia da insana, débil mente ociosa,
Crava em teu corpo, as burras teses, tacanhas.
Nascida da infelicidade, de um mundo carente...

Abraços fraternos.

lolita disse...

Que bela Recordação, Mysha. Gostei muito de conhecer esta tua recordação e muito, porque infelizmente não tive uma professora assim. Tive uma D. Maria Luisa, que sempre me tratou com indiferença em me humilhava apenas por ser diferente. É que sempre fui alta, e quando andava na escola já era mais alta que ela...
... mas enfim, gostei de sentir a nostalgia que sentistes ao escrever esta pequena homenagem, e gostei muito de a ler e de ver que nem todas as professoras primárias são iguais.

Quanto ao miminho minha amiga, é de coração, e ainda tenho lá um outro selinho de um anjinho muito papudo, Porque acredito em anjos, para ires buscar para te guiar os teus blogues, que confesso que adorei.

Uma beijoca com cheiro a planície, Ava

A.S. disse...

Há pessoas que passam pela nossa vida que nos marcam definitivamente e jamais as esqueceremos...


BeijO
AL

Graça Pereira disse...

Penso que este é mais ou menos um passado comum a todos nós, quando éramos crianças. E, pelos vistos, somos dos felizardos... em que podemos recordar com saudade a professora que tivemos e os bons ensinamentos que nos passaram...Bonita homenagem à tua professora.
Beijos
Graça

Mara disse...

Bom dia amiga querida, passei só para deixar um beijo e desejar um dia feliz.
Beijinhos nossos, de amizade
Mara